conto as teias de aranha na janela do banheiro. nossos corpos circundam noite e dia a casa. da varanda, vê-se um pôr-do-sol alaranjado. camada de poluição no fim da tarde. a pandemia tão abstrata toma conta do real, tremores ansiosos, raiva, medo, estresse. a imunidade cai, o corpo adoece por três dias. pesadelos interrompem o sono. insone mais uma noite. mais um atravessamento para conta. conto o sonho em que estive na rua da casa de minha vó, cheiro de asfalto, de pé no chão, liberdade. abri mão de vaidade para dizer que minha casa abriga, mas nem sempre comporta o tamanho do impensável. me verbalizar. angústias e o desejo de estar perto, querer bem. me cuido escrevendo. cuido de quem amo escutando desassossegos noturnos via áudio. estamos juntos. brindamos o vinho. a casa de meus conhecidos nunca esteve tão longe e, mesmo assim, tão entranhada em mim. não soa tão estrangeiro. somos muitos aqui dentro sentindo que o que sentimos está por fora. é válido, possível e real estar perdido na nova antiga casa. redescobrir cômodos, incômodos, arrumações, deixe estar, tudo bem. sentir-se mal diante de móveis que lotam um espaço que já foi vazio e vazio de novo se sente sendo. deparar-se com o olhar que encontra o antigo novo dilema. 17 teias de aranha na janela do banheiro. mais um fim de tarde.
A Casa
Atualizado: 17 de abr. de 2020
Bianca arrasa, não só amo como me indentifico demais com a escrita dela! ♥️
achei demais, amo os textos da Bianquinha ♥